"E, contudo, quanto maior for a safra que conseguirem, mais os preços cairão, fazendo a espiral perversa da superprodução dar mais uma volta no seu torniquete."
“Os agricultores que enfrentam preços baixos têm apenas uma opção para manter o seu
padrão de vida, pagar as contas e as parcelas de sua dívida, que é a de produzir ainda mais.” A
família de um agricultor precisa de um certo volume de dinheiro para se manter a cada ano, e,
se o preço do milho cai, o único jeito de manter a renda é vender mais milho. Naylor diz que os
agricultores que ficam desesperados para aumentar a produtividade acabam por deteriorar suas
terras, semeando e colhendo em faixas de terras à margem da lavoura, usando cada vez mais
nitrogênio – tudo para arrancar mais alguns alqueires do solo. E, contudo, quanto maior for a
safra que conseguirem, mais os preços cairão, fazendo a espiral perversa da superprodução dar
mais uma volta no seu torniquete. Ainda assim, os agricultores continuam a medir seu sucesso
pelos alqueires obtidos por acre, uma medida que continua a valer mesmo com vários indo à
falência.
“A lei da oferta e da procura nunca funcionou na agricultura e nunca vai funcionar. A lógica
econômica de uma propriedade familiar é muito diferente daquela de uma empresa: quando os
preços caem, a firma pode mandar gente embora, desativar fábricas e produzir menos disso ou
daquilo. Mas, ao final, o mercado acaba encontrando um novo equilíbrio entre a oferta e a
demanda. Mas a demanda por comida não é elástica; as pessoas não comem mais só porque a
comida está barata. E demitir fazendeiros não ajuda a reduzir a oferta. Você pode me despedir,
mas não pode despedir a minha terra, porque algum outro fazendeiro, que precisa de um fluxo de
caixa maior ou que pensa ser mais eficiente do que eu, virá cultivar as terras. Mesmo se eu sair
desse ramo, esse pedaço de terra continuará a produzir milho.”
Mas por que milho e não alguma outra coisa? “Nós aqui estamos no último degrau da cadeia
alimentar industrial, usando essa terra para produzir energia e proteínas, principalmente para
alimentar animais. O milho é o meio mais eficiente de se produzir energia; a soja, o meio mais
eficiente de se produzir proteínas.” Naylor descarta de forma mal-humorada a mera ideia de
plantar outra coisa. “O que vou cultivar aqui? Brócolis? Alface? Fizemos um investimento de
longo prazo para cultivar milho e soja. O silo é o único comprador na cidade e só me paga por
milho e soja. O mercado me diz para cultivar milho e soja. Ponto.” Da mesma forma que o
governo, que calcula o pagamento de seus vários subsídios baseando-se na sua safra de milho.
Assim, a praga do milho barato segue em frente, empobrecendo agricultores (tanto aqui como
nos países para onde o exportamos), deteriorando a terra, poluindo a água e sangrando o
orçamento federal, que hoje gasta cerca de cinco bilhões de dólares por ano para subsidiar o
milho barato. Mas, ainda que esses cheques de subsídio vão para as mãos dos fazendeiros (e
representem hoje quase metade do rendimento bruto dos agricultores), o Tesouro está na
realidade subsidiando os compradores desse milho barato. “A agricultura sempre será organizada
pelo governo; a questão é: organizada em benefício de quem? Hoje em dia ela beneficia a Cargill
e a Coca-Cola. Certamente não o fazendeiro.”
- POLLAN, Michel; O Dilema do Onívoro, p. 46-47.
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